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Nome: Sachi
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  terça-feira, 30 de setembro de 2008

Pois bem, já postei sobre o tempo. Sobre como nós na verdade não sabemos controlá-lo da melhor forma (definitivamente não, olha o tempo que gastamos trabalhando/estudando!!). Mas hoje quem está com a palavra no meu blog é Luis Fernando Verissimo e toda a sua inteligência e criatividade. Estava rondando por aí olhando textos legais pra ter uma idéia do que postar continuando nossa linha de meditação bizarra, e me deparei com um texto de Verissimo acerca da nossa natureza. Como quase tudo que ele escreve o tom irônico e crítico toma conta do texto hahaha, mas mesmo assim (ou talvez exatamente por isso) esse texto me fez pensar =D
Espero que gostem e que pensem também!

Os pássaros
Por Luis Fernando Verissimo, n'O GLOBO, 6/11/2005


Você está bem, apesar de tudo. É primavera e você está aí, nessa praia, sob esse sol, sob esse céu, com esse ventinho correndo vez que outra pelo seu corpo, como caldo sendo passado num assado para ele não secar; a vida é outra coisa e a coisa é outra vida.

Numa praia, você está em contato com o básico da existência. Sente a areia sob o seu corpo. O chão do planeta. Do seu planeta. Nada entre você e a Terra em que nasceu. Nem asfalto, nem esteira, nem nada. E você está bem.

O cheiro do mar. O cheiro antigo do mar. Quantos cheiros do nosso dia-a-dia são os mesmos cheiros que um homem primitivo conhecia? Pouquíssimos. Só os cheiros naturais. O mar, o mato, a terra molhada pela chuva, os cheiros do nosso próprio corpo. Você se cheira. Loção de barba, desodorante e creme bronzeador. Coisas que o homem primitivo não usava. Se por alguma mágica você fosse transportado para a pré-História, causaria uma sensação nas cavernas. Não por causa do calção, dos óculos escuros ou da barba feita. Por causa do cheiro. Os pré-homens cercariam você, aspirando forte. Como você explicaria ter o cheiro de um campo florido?

Mas o cheiro do mar é o mesmo desde o começo do mundo. Você se sente seguro, aí nessa praia. Nada pode atingir você, salvo uma eventual bolada. Você está em casa entre os elementos. É um molusco de óculos escuros no seu habitat. Respira o bom e farto oxigênio posto no mundo justamente para o seu sustento. E o ar é abundante e grátis, e não há problemas com fornecedor (greves etc.). Ninguém o consultou, mas você não mudaria esse arranjo por nada.

Deus, o primeiro autocrata, fez o mundo como bem quis, sem ouvir as bases, sem debates, sem referendo. Sorte sua, pois, se o Criador tivesse optado pelo método democrático, o Universo ainda não estaria pronto e você estaria perdendo todos os bons programas na TV. Você vive no mundo como ele lhe foi dado por Deus e ainda não ouviu ninguém chamar o processo de fascismo divino.

Você não se queixa. Acha o Universo um barato e não o faria diferente, apesar de concordar que certas coisas — os anéis de Saturno, por exemplo, ou o repertório do Julio Iglesias — são de gosto duvidoso. Já morango com nata, arco-íris, a estrutura molecular, trigal, mulher... Olha, Deus: gênio.

Você está bem. Você está protegido. Aí, deitado nessa areia cálida, sentindo a Terra se mover com a doce familiaridade de um berço embalado. Você olha para o céu. Você vê pássaros se aproximando em formação contra o azul profundo. Pensa: que bonito. Pensa: a paz é isso, esse sol, esse céu, esses... Alguém perto de você diz:

— Ai, ai, ai...

— O que foi?

— Podem ser aves migratórias...

— E daí?

— Você não soube? São as aves migratórias que estão espalhando a gripe.

— A gripe? Mas...

Você não completa a frase. Todos à sua volta na praia já começaram a correr.

— Elas vão dar rasante! Elas vão dar rasante!

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Trilha sonora do momento: "LAYLA" by GLAY (2007)

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postado por Sachi @ 06:35